sábado, 15 de novembro de 2014

PERALTAGEM


O canto distante da sariema encompridava a tarde.

E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela.

E quando o grito da mãe nos alcançava a gente já estava do outro lado do rio.

O pai nos chamou pelo berrante.

Na volta fomos encostando pelas paredes da casa pé ante pé.

Com receio de um carão do pai.

Logo a tosse do vô acordou o silêncio da casa.

Mas não apanhamos nem.

E nem levamos carão nem.

A mãe só que falou que eu iria viver leso fazendo só essas coisas.

O pai completou: ele precisava de ver outras coisas além de ficar ouvindo só o canto dos pássaros.

E a mãe disse mais: esse menino vai passar a vida enfiando água no espeto!

Foi quase.

Descanse encantado no meio das tuas poesias menino Manoel! Obrigada por tanta beleza, por tanto lirismo, por tanto amor, por tanta simplicidade e por representar divinamente a infância. 
"Porque me abasteço na infância e minha palavra é Bem-de-Raiz e bebe na fonte do ser" (Manoel de Barros)





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