Apresento a vocês, o
poeta Manoel de Barros, que nasceu no Beco da Marinha, em Cuiabá,
estado do Mato Grosso, no dia 19 de dezembro de 1916. Apelidado de Nequinho por
sua família, passou sua infância sentindo a textura da terra nos pés, brincando
e correndo entre personagens que definiriam sua obra, os currais e os objetos
que chamavam a atenção do futuro escritor. Aos 19 anos, Manoel de Barros
escreveu seu primeiro poema, e a partir de então sua veia poética não mais
deixou de pulsar.
Tenho
um livro sobre águas e meninos.
Gostei
mais de um menino
que
carregava água na peneira.
A mãe
disse que carregar água na peneira
era o
mesmo que roubar um vento e
sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe
disse que era o mesmo
que
catar espinhos na água.
O
mesmo que criar peixes no bolso.
O
menino era ligado em despropósitos.
Quis
montar os alicerces
de
uma casa sobre orvalhos.
A mãe
reparou que o menino
gostava
mais do vazio, do que do cheio.
Falava
que vazios são maiores e até infinitos.
Com o
tempo aquele menino
que
era cismado e esquisito,
porque
gostava de carregar água na peneira.
Com o
tempo descobriu que
escrever seria
o mesmo
que
carregar água na peneira.
No
escrever o menino viu
que
era capaz de ser noviça,
monge
ou mendigo ao mesmo tempo.
O
menino aprendeu a usar as palavras.
Viu
que podia fazer peraltagens com as palavras.
E
começou a fazer peraltagens.
Foi
capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O
menino fazia prodígios.
Até
fez uma pedra dar flor.
A mãe
reparava o menino com ternura.
A mãe
falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você
vai carregar água na peneira a vida toda.
Você
vai encher os vazios
com
as suas peraltagens,
e
algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário