No início
da vida a brincadeira é, principalmente, exercício dos sentidos e imitação. A
oferta e a escolha de brinquedos adequados representam hoje um verdadeiro
problema. As crianças são literalmente soterradas sob um monte de brinquedos
industrializados sofisticados, considerados especialmente adequados para ela.
Entretanto, quem já observou uma criança brincando, mergulhada em seu próprio
mundo, constata quão pouco essa atividade está relacionada com essa oferta de
brinquedos.
Brincar é
a tendência de a criança tornar-se ativa em seu ambiente. Ela faz o que vê os
outros fazer. Com dois anos de idade, mexe entusiasmada com um pauzinho no chão
e cozinha uma sopa, como a mãe. Tal qual esta, também quer mexer nos ‘botões’
quando ela está utilizando algum aparelho eletrodoméstico. Além disso, também
quer fazer ‘clique’ quando o pai tira fotografias em sua presença. Quer
examinar os pratos que, antes das refeições, fazem um barulho tão alegre ao
serem retirados do armário.
Ela
vivencia a realização em sua atividade, e não na contemplação de uma boneca de
plástico perfeita ou de uma caricatura de um animal. Numa boneca sem rosto, ou
com apenas três pontos dando a indicação da fisionomia, a fantasia infantil
cria o que está faltando. A boneca ri, chora, fica zangada ou com sono. Bonecas
que sorriem eternamente ou até ‘falam’ geram imagens persistentes desprovidas
de veracidade, estagnando a fantasia.
Qual é,
então, o brinquedo adequado? No primeiro ano de vida, por exemplo, uma boneca
cuja confecção seja a mais simples possível: um pequeno retalho de seda, em
cujo centro se coloca um chumaço de lã de carneiro lavada e bem desfiada depois
de seca, o qual adquire uma forma redonda (a cabeça) quando envolvido com o
tecido e amarrado com um fio, enquanto se dão nós nas pontas laterais, que são
as mãos. Mais tarde a boneca pode ser de madeira, e pode ser deitada ou
colocada em pé; depois, ainda, uma boneca de flanela macia etc. Na verdade, o
brinquedo adequado é todo objeto que desperta uma atividade intensa na criança,
representando tão pouco por si mesmo que ela possa equipá-lo com sua imaginação
e determiná-lo sempre de outra maneira. Um dedo, no qual se possa observar os
movimentos e tudo o que ele sabe fazer, pode ser um brinquedo. Igualmente a
ponta de um travesseiro, a qual pode ser dobrada ou afundada. Brinquedo é uma
caixinha que se abre e fecha e na qual se podem colocar objetos e tirá-los
outra vez. Brinquedo também é um pedacinho de madeira com o qual se possa bater
na mesa, explorando os ruídos. Mais tarde, é uma torneira ou uma tampa de
garrafa, com a qual se possa pegar água e criar um lago; também uma panela na
qual se batuque com uma colher de pau é interessante, ou uma bola colorida de
tricô recheada com lã de carneiro, que possa ser empurrada, jogada ou
embrulhada; pequenos panos coloridos, com os quais se possa cobrir e novamente
descobrir todo tipo de coisas.
Por
que é tão importante que o pai, a mãe, os tios e os avós dêem de presente bons
brinquedos? Porque os brinquedos habituais, perfeitos, inventados para as
crianças, não deixam espaço para a imaginação infantil. Além disso, o material,
as cores e as formas da maioria deles geralmente pecam contra o sentido de
realidade e contra a sensibilidade estética. As requintadas possibilidades de
movimento e os efeitos luminosos dos brinquedos técnicos fazem da criança uma
mera espectadora, em vez de colocá-la em atividade. Na brincadeira, trata-se de
dar à criança a possibilidade de desenvolver sadiamente seu corpo pela
atividade própria e pela fantasia livre e criativa.
Extraído
de M. Glöckler e W. Goebel, Consultório Pediátrico
Tradução:
Sonia Setzer
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Que legal, pro Rafa! Aqui em casa, sucesso mesmo é quando eu trago rua caixas de papelão! Parece nada, né? Mas são tantas as possibilidades, que a brincadeira dura enquanto durarem as caixas. Um beijo! Tatiana Storch - mãe de Luiz, Zé e Marina.
ResponderExcluirE com isso estamos proporcionando as crianças utilizarem a criatividade! Beijo!
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