No início
da vida a brincadeira é, principalmente, exercício dos sentidos e imitação. A
oferta e a escolha de brinquedos adequados representam hoje um verdadeiro
problema. As crianças são literalmente soterradas sob um monte de brinquedos
industrializados sofisticados, considerados especialmente adequados para ela.
Entretanto, quem já observou uma criança brincando, mergulhada em seu próprio
mundo, constata quão pouco essa atividade está relacionada com essa oferta de
brinquedos.
Brincar é
a tendência de a criança tornar-se ativa em seu ambiente. Ela faz o que vê os
outros fazer. Com dois anos de idade, mexe entusiasmada com um pauzinho no chão
e cozinha uma sopa, como a mãe. Tal qual esta, também quer mexer nos ‘botões’
quando ela está utilizando algum aparelho eletrodoméstico. Além disso, também
quer fazer ‘clique’ quando o pai tira fotografias em sua presença. Quer
examinar os pratos que, antes das refeições, fazem um barulho tão alegre ao
serem retirados do armário.
Ela
vivencia a realização em sua atividade, e não na contemplação de uma boneca de
plástico perfeita ou de uma caricatura de um animal. Numa boneca sem rosto, ou
com apenas três pontos dando a indicação da fisionomia, a fantasia infantil
cria o que está faltando. A boneca ri, chora, fica zangada ou com sono. Bonecas
que sorriem eternamente ou até ‘falam’ geram imagens persistentes desprovidas
de veracidade, estagnando a fantasia.